Eu morei por um tempo no prédio do outro lado da rua do brechó. Entrei na lojinha de cima, uma vez. Passou um homem que dizia estar vendendo uma joia. Perguntei para as senhoras que estavam ali, tricotando, por que não aceitaram. “Tem muita gente ruim, minha filha.” Eu julguei, não tinha entendido por que não aceitariam. Me mudei do prédio e nunca mais voltei naquela casinha azul, bonita. Muito obrigada por me mostrar a vida das mulheres que sobrevivem daquele brechó. Muito obrigada por mostrar que a vida é complexa, cheia de gente complexa, e de gente boa, também.