Há muito que não ouvia o João Villaret. Este "cantico negro" do Régio, pertence desde há muito ao meu imaginário. Há muitos anos, ainda vivia na Rua Nova de São Mamede num início de tarde, vivi uma experiência única no Cinema S. Jorge. O espectáculo foi de homenagem ao João Villaret (que já falecera). O palco negro, foi iluminado por um foco, que claro "acendia" o palco vazio... E foi ouvir declamar até às lágrimas, o nosso querido João Villaret, durante mais ou menos uma hora... Depois ... Desci a Avenida, ensolarada, até ao Rossio, com o desgosto da perda, mas coma alma preparada para ainda dar mais valor ao acto de viver.
Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidades! Não acompanhar ninguém. - Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, E vós amais o que é fácil! Eu amo o Longe e a Miragem, Amo os abismos, as torrentes, os desertos... Ide! Tendes estradas, Tendes jardins, tendes canteiros, Tendes pátria, tendes tetos, E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... Eu tenho a minha Loucura ! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém! Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; Mas eu, que nunca principio nem acabo, Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou, É uma onda que se alevantou, É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou Sei que não vou por aí!
Maravilhoso...o poema e a interpretação, arrepiante... palavras a que se não consegue ficar indiferente...certeiras ao coração, à alma, à pele....aos ossos....tudo sente cada palavra dita.
Lindo, emocionante, eh a vida como ela deve ser. Sua vida, suas escolhas, seus caminhos... Dispensados todos os "bem intencionados" que sempre sabem o melhor caminho para o outro, melhor sempre eh aquele que nos levam nossos próprios pés.
acho impresionante como 3 pessoas sao capazes de nao gostar disto! simplesmente fantastico!! Grande poeta Jose Regio e grande declamador Joao Villaret!! Desde a primeira vez que li e ouvi este poema achei-o FANTASTICO, e muito emocionante! Ja declamei-o varias vezes, com inspiracao de Joao Villaret, e a cada vez que o declamo faz mais sentido!
Fazia alguns anos que não escutava esta Grande voz #João Villaret # declamando maravilhosamente, como era seu timbre , este belissimo poema do grande poeta José Régio . João estejasa onde esrtiveres a tua voz será sempre um referencial na arte de bem declamar
@voicegods O que "eles" omitem é que este poema é um hino à individualidade dos portugueses na sua portugalidade: "Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens, e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada" "Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, e vós amais o que é fácil! Eu amo o Longe e a Miragem" "Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!" "Não sei por onde vou, Não sei para onde vou Sei que não vou por aí!"
Ouvi este e o que me parece ser interpretado pelo próprio José Régio, peço desculpa mas na minha opinião não tem comparação possível... GRANDE João Villaret.
Agradeço o seu reparo snr.Aurélio Marmelo. De facto,isto se deve a uma ,lamentável troca do lugar do comentário.E o pior é que nem me lembro do verdadeiro local onde devia estar...Eu até sou um grande admirador de José Régio. De qualquer forma....acho que foi o Diabo que me desorientou.
Narciso Torres onde é que o senhor viu que o "Cântico Negro" era do grande Pablo Neruda grande, enorme poeta que eu aprecio e muito respeito.Era só para ficar a saber se eu tenho andado enganado já à volta de 50 anos!!!!::::.
@Jo Te é livre de discordar. Mas mantenho a minha opinião que tal como a interpretação de Villaret é subjetiva e entra no campo dos gostos de cada um. Para mim vai um bocado além em alguns pontos, o que lhe tira alguma adequação. Para si é necessário. Para mim é dispensável. Mas respeito a sua opinião. ;)
Narciso Torres. O senhor apesar da idade que já aparenta,escreveu um comentário que,me leva a desconfiar da sua sanidade mental.Com então o Poema Cântico Negro é de Pablo Neruda?Reveja por favor os seus conhecimentos de cultura,porque me parece que o senhor anda um pouco distraído.O Poema Cântico Negro é da autoria do Zeca pagodinho...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
