Joseph foi, em uma vida, o rapaz mais iluminado que tive a oportunidade de conhecer. Um polímata disfarçado de simples jovem, a pureza da felicidade em um sorriso que, sem exagero ou vontade de ser piegas, nunca vi não estar estampado no seu rosto. Conheci-o em uma situação delicadíssima: ele estava internado no Hospital Universitário Lauro Wanderley, na UFPB. Cheguei até ele por pura obra do acaso: uma das disciplinas solicitava que nós, como estudantes, fôssemos até o HU para conversar com algum paciente ao longo de algumas semanas, com a intenção de aprendermos a lidar com a evolução de um paciente internado. A enfermaria 517 era a dele, se não me falha a memória. Ambiente simples, como todos os leitos do HU eram, mas com uma diferença absoluta de todos os outros: um paciente de 31 anos, aparentemente bem, mas com um diagnóstico terminal. Joseph descobrira o câncer aos 29 anos, fora operado, e a recidiva veio com cerca de 2 anos após a operação. Posso estar errando um ou outro detalhe da história natural da sua doença - para o horror dos meus professores de Semiologia Médica -, mas, sinceramente, qualquer sinal ou sintoma que deixei passar se foram, mas as horas e horas de conversas que tive com Joseph, falando sobre o céu e a Terra - sim, fomos de Nietzsche ao ictus cordis, de Ariano Suassuna à etimologia de paixão - tudo, sem exceção, que entrava na mesma contiguidade de seu vasto conhecimento e da sua verdadeira volição em conversar comigo, isso tudo ficou. Sempre que o reencontrava, mais caquético, mais debilitado, vinha-me à cabeça a figura de Machado de Assis, mas não, não era um diabo que contava suas moedas, bradando: "Outra de menos." Era um anjo que o queria; o mesmo que o levou direto para uma manjedoura em que, apego-me sempre, ele está a ler a Iniciação à Estética - último livro que prometemos que íamos conversar sobre, assim que ele acabasse de ler o exemplar que o dei -, rezar terços e terços, com seu crucifixo, e, como agora e sempre, a sorrir. Você deixou memórias indeléveis em mim, querido Joseph. O abraço tácito que você me deu, na última vez que nos vimos, nunca será apagado de mim.