Imagens de incrível beleza, e um documento de enorme valor histórico. Ainda assim não consigo olhar para estas imagens e não ver aqui um enorme hino ao anacronismo absoluto em que a ferrovia portuguesa entrou, precisamente na década de 1970, e que iria culminar no final da década seguinte no encerramento de 800 km de vias de Norte a Sul do país. A cacofonia de carruagens de madeira da década de 1920 com carruagens inox modernas, e ver ainda as Linhas do Douro e do Minho traccionadas a vapor já tão tarde no século XX é gritante. PS: As imagens da Linha do Corgo e da Linha do Tua são fabulosas.
O irónico desta história, é que este atraso acabou durante os anos 80 com o encerramento de várias linhas, caso da do Vouga, mas NÃO impediu o atraso do comboio em Portugal como é actualmente confirmado pelo uso exclusivo da bitola ibérica. E seria pior caso não fossem as esmolas de UEuropeia!
Nota importante de uma modificação da descrição das legendas do vídeo de referir ao minuto 2.55, não é Senhora da Hora mas sim as imagens mostram entre as estações de Ramalde e Francos.
A emigração e a Guerra Colonial levaram à desertificação do norte do país. Menos gente, logo menos passageiros dos comboios o que deu como resultado uma ferrovia muito pobre em termos de material circulante. Os comboios têm tendência a dar prejuízos e, em qualquer parte do mundo, só sobrevivem com uma importante ajuda do Estado o que não aconteceu em Portugal. Estamos, actualmente, na cauda da Europa em termos ferroviários. Optou-se por auto-estradas cujos custos são suportadas pelo erário público.
Por altura de 1978/1979 seguramente ainda havia na linha do Douro e Minho máquinas a vapor mas também já as novas da série 1400. Eu tinha 10 anos e morava mesmo junto da estação de Contumil e ia muitas vezes à baixa do porto, São Bento, com a minha mãe. As carruagens vermelhas, que agora sei chamarem-se Schindler, tinham dois tipos de assentos: Uns excelentemente bem almofadados de acabamento em napa, de verde azeitona acho... e outros bancos, corridos, eram ripado de madeira envernizada!! Também já haviam automotoras elétricas, em inox, e a cabina do maquinista só ocupava metade da frente do comboio. Eu adorava ir de joelhos no assento a ter a vista de frente no sentido da marcha. Algo inexistente nos dias de hoje. :)
As carruagens e as locomotivas parecem ser demasiado antigas para os anos 70, calculo que Portugal estaria muito atrasado em comparação com o resto da Europa, há coisas que nunca mudam... ainda nos dias de hoje compramos carruagens velhas ao espanhois...
Nos anos 70 muitas linhas do interior de Portugal ainda tinham carruagens a vapor, é um facto! Sim, Portugal estava incrivelmente atrasado no Estado Novo, custe o que custar - as linhas apenas sobreviviam porque as pessoas não tinham dinheiro para ter veículo próprio, e mesmo que o tivessem as estradas também não eram nada de jeito e uma pessoa demorava o dia inteiro para ir do Norte ao Sul de Portugal!
Carruagens velhas mas nada que se compare... Estas carruagens eram do século XIX, ainda do início da ferrovia por cá, já as carruagens do espanhóis têm... 15 anos!