Lang fez um filme sobre um "serial killer" bem antes de "serial killers" serem assim chamados. O termo "serial killer" foi criado por investigadores do FBI na década de 1960.
1:38 O subtítulo de "M" no original em alemão é "Eine Stadt sucht einen Mörder", que pode ser traduzido como "Uma cidade a procura de um assassino". Apesar da cidade não ser mencionada no filme, tudo indica que se trate de Berlim (as locações, o sotaque dos personagens, a propaganda de um jornal berlinense, o mapa da cidade, o quantitativo populacional da cidade, etc.). O subtítulo "O vampiro de Düsseldorf" só aparece em outros idiomas, muito provavelmente em alusão à alcunha de Peter Kürten, famoso assassino serial alemão cujo julgamento e execução da pena capital ocorreram pouco antes da estreia de "M".
Lembro que na minha graduação o professor da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira da Silva, doutor em História social pela UFF, que fez seu mestrado em Berlim, acabou desenvolvendo uma aula inteira tendo como início a citação do título desse filme. Fritz Lang tinha estabelecido o título original de seu filme como "Os assassinos estão entre nós", o que foi censurado por pressão de forças nazistas. Essa censura não foi contra o filme mas apenas ao título. Os nazistas não queriam esse título nos cinemas. O filme é de 1931 e Hitler se tornou Chanceler em 1932. Curioso não é mesmo. Fritz Lang não teria aceitado essa censura e resolveu trocar o título do filme apenas para "M", como forma de repúdio, o que também se tornou revolucionário para a época. O subtítulo "O vampiro de Dusseldorf" teria sido incluído apenas depois da guerra. Isso porque o título "Os assassinos estão entre nós" passou a ser de um outro filme lançado em 1946, pelo diretor Wolfgang Staudte, com a temática da culpa alemã sobre o holocausto e a guerra. Curiosamente Hitler adorava o filme "Metrópoles", devido a mensagem de união entre capital e trabalho para o benefício da Nação, em uma negação da luta de classes, que só serviria para destruir a todos. O próprio Fritz Lang foi convidado para fazer parte do governo nazistas, o que ele respondeu fugindo para os Estados Unidos, mostrando o quanto era sensato e fazendo valer o título original de seu filme "M".
@@samuelaurelio3127 Nova Hollywood é muito boa também, e por ter som, cores, etc talvez seja melhor mesmo... Mas das europeias o expressionismo é pra mim o mais interessante já que se foca no horror, as demais se focam mais em dramas
É, mas visto o que foi exposto antes no argumento dos mafiosos e pela fala mãe do final, observa-se que a impunidade da forma que deve ser traz riscos...
Só lembrando também que nessa época, Lang muito provavelmente observava o cenário político e social da Alemanha, enquanto a frágil República de Weimar se dissolvia junto com a economia alemã. Todo o caos político e econômico que foi aproveitado pelo Partido Nazista no início da década de 1930 pode ser posto em paralelo com as mortes do filme: na minha opinião, Dusseldorf tem uma força destruidora (o assassino) que tem como alvo uma figura de pureza e inocência (crianças). Lang provavelmente via a Alemanha como um todo tendo cada vez mais movimentações do Partido Nazista atacando a democracia alemã, e ele traduziu cinematograficamente como um povo cego de raiva e medo pode culpabilizar pessoas inocentes (por exemplo, a comunidade judaica) enquanto o verdadeiro culpado anda livre pelas ruas.
O Juiz do "julgamento civil" é o único a usar luvas de couro e jaqueta preta. O que lembra bastante a figura de autoridade máxima da situação. Os destaques aos detalhes minuciosos como este faz o filme de Lang ser um dos melhores do diretor.
Não era apenas os judeus. Envolviam crianças com deficiência física ou mental/psicológica. Fora a perseguição a LGBT's da época. E aos imigrantes não brancos ou não alemães.
Max, que vídeo incrível! Tinha que passar na TV, no horário nobre, para todo mundo puder conhecer a qualidade do seu trabalho! Muito obrigada por compartilhar seu conhecimento conosco!
Recomendo também a refilmagem americana "M - O Maldito" (1951) dirigido por Joseph Losey e estrelado por David Wayne. Tá certo que a refilmagem não traz nenhuma inovação técnica ou narrativo se comparado com a obra de Fritz Lang, mas ainda assim a versão do Losey é uma boa releitura sobre a perseguição do Macarthismo. Meu ranking das melhores performances protagonistas de 1931: 10º Edward G. Robinson - Sede de Escândalo 9º Raimu - Marius 8º Michel Simon - A Cadela 7º Fredric March - O Médico e o Mostro 6º Boris Karloff - Frankenstein 5º Bela Lugosi - Drácula 4º James Cagney - O Inimigo Público 3º Edward G. Robinson - Alma no Lodo 2º Charlie Chaplin - Luzes da Cidade 1º Peter Lorre - M
Sou um grande fã de filmes de suspense, mas não conhecia esse filme. Fiquei surpreso ao perceber que vários elementos que eu amo nesse gênero foram antecipadas por esse longa
Caraca, que filme! A técnica dele está muito a frente se seu tempo, pois, na maioria dos filmes PB que vejo, é muito mais forte o teatro que o filme, já esse consigo ver um filme mesmo, o ritmo é muito bom
Sua análise me fez lembrar um pouco de The Leftovers, a série da HBo, Max, porque nela somos levados a crer que o tema é o desaparecimento de 2% da população em um mesmo evento inexplicável em um mesmo dia (e pelo que lembro, a sinopse sintetiza essa narrativa, mesmo), mas quando se assiste à produção, percebe-se que, exatamente como o título, o propósito é falar sobre como todo o restante da humanidade passou a se comportar depois do fenômeno chamado de “departure”.
Assisti esse filme na matéria de história da arte na faculdade. Lembro do gostar mas não prestar tanta atenção ao que tinha mais além da leitura superficial do filme. Por isso curto análises e trabalhos como o seu. Discutir significados é uma parte importante da formação como sujeitos leitores e mais de uma vez eu mudei muito de opinião sobre uma obra depois de discuti-la.
Ele fala e fala do filme e ainda faz a gente ter mais expectativa pra ver. Esses filmes q são subestimados pelo tempo mtas vezes se provam mto sensoriais.
Dá um quentinho no coração a existência do EntrePlanos e ver como ele democratiza e espalha a história do cinema de forma super didática e aprofundada.
"Atenção, esse filme tem spoilers". Um filme de 1931! Isso daria um outro video sobre o limite dos spoilers. É spoiler falar sobre um filme de 1931? Debates calorosos pela frente rsrsrs
Eae MAx, gosto muito dos seus vídeos cara, te acompanho já tem algum tempo. Gostaria muito que vc fizesse um vídeo sobre filmes de terror asiáticos, mais precisamente do japão, se tiver interesse, faça um sobre o filme Cure de 1997 do Kiyoshi Kurosawa, ele é um dos grandes diretores japoneses quando se trata de terror! Abraço cara, fique bem!
Aqui no RU-vid tem um canal muito bom de um historiador brasileiro que fez uma série de vídeos curtos que trata sobre esse tema. A série se chama " A Hollywood Nazista" nela se conta as histórias de atores, diretores e produtores famosos exponencialmente na Alemanha da época.
M é maravilhoso, lembro até hj a primeira vez que assisti e a tensão que fiquei em frente a tela. Que tal um vídeo assim sobre "Céu e Inferno" do Kurosawa Max?
Sinto falta disso de transmitir horror sem mostrar "cenas horrorosas" nos filmes atuais... Quando há cenas horrorosas, além de afastar certas pessoas a assistir o filme, o horror perde sua carga e dá lugar para o desconforto. E sobre a cena do julgamento, sim, ele joga o tal problema para o público, mas, os argumentis dos mafiosos que iam sim condená-lo antes da polícia chegar, e as mães que falam sobre a oerda do filho e de que devemos cujdar das crianças faz com que nos inclinemos a condená-lo. Lang inspira essa inclinação para o bem através do grotesco e absurdo. Fora que ele meio que desacredita a eficiência do trabalho do Estado mostrando os mafiosos rindo quando falam sobre o processo estatal... Enfim...
Sempre vi filmes da década de 20, 30 e 40, e conhecia esse filme, mas nunca assisti juntamente por causa da crítica do público geral, e agora vejo que perdi muito tempo em não ter visto ele logo😅.
O peso do horror, pelo q não vemos .. É descobrir q na vida o q tem utilidade é o vazio . A matéria delimita o espaço ( cm uma casa , paredes delimitam mas o usado é o vazio ) cm um vaso q seja ql for o formato usamos o vazio ....
Vídeo incrível! Fico só pensando como a sociedade alemã foi disso, com essas críticas sociais e tanta reflexão na arte, para o que aconteceu anos depois na história. Isso mostra com a sociedade pode mudar completamente da noite pro dia se a gente não cultivar nossos valores diariamente e aprender a respeitar as diferenças. :D
O que eu não consigo entender é pq o filme, que se chama ”M“ no original, foi traduzido para “O vampiro de Düsseldorf“, sendo que o filme se passa todo ele em Berlim. E Düsseldorf nem sequer é mencionada!
Há o problema sério de vincular o mal aos transtornos mentais, o que é falso, a maioria das pessoas com transtornos são inofensivas aos outros. O estigma ficou horrível.
"É certo punir com a morte criminosos que matam outras pessoas?" Sim. Com toda certeza. Mas se deixarem mofando numa cela o resto da vida, serve também. Só vai sair mais caro pros cofres públicos.
Quando o assassino está sendo julgado pelos criminosos no filme ele fala: "Vcs querem me matar!" Aí um dos bandidos fala: "Não queremos matar vc,queremos torná-lo inofensivo e vc só será inofensivo se estiver morto" Ri muito nessa cena😂😂😂