Ótima análise, uma das melhores que eu vi no RU-vid! Apenas fazendo um pequeno adendo, eu diria que o diabo representaria não o Hitler, mas todo um espírito coletivo (Zeitgeist) de ressentimento, megalomania, vaidade , desamor, etc. que pairava na sociedade alemã da época e que o nazismo conseguiu personificar. Tanto que o diabo muda de forma física durante o diálogo com Adrian. Parabéns pelo vídeo, e sucesso com o canal !!
Vc viu que até coloquei uma blusinha mais social, né?! kkkkkkkkkkk Mas pra falar a verdade, é porque foi no mesmo dia que gravei um documentário pro Clube! kkkkkkkk
Algumas notas sobre o vídeo e sobre o livro: O livro foi escrito pelo Mann, mas teve MUITA ajuda do Theodor Adorno. Adorno foi um filósofo e musicólogo muitíssimo importante. Apesar da importância, sua aceitação na música é polêmica. Para resumir, ele era muito "germânico". Ele idolatrava a música germânica em detrimento de qualquer outra. Isso leva a crer que a música germânica tem algum tipo de superioridade, o que não é verdade. Adrian Leverkuhn é descaradamente baseado no compositor Arnold Schoenberg. Mas quando eu digo descaradamente é descaradamente MESMO, do tipo sem nenhuma vergonha e na cara de pau. Foi ele que criou o dodecafonismo, apresentado no capítulo 27, por exemplo. Arnold Schoenberg era amigo amigo pessoal do Adorno. Digo "era" porque esse livro (Doutor Fausto) azedou a amizade entre os dois, já que o Schoenberg nunca foi creditado por nada. Muitas das passagens "musicais" do livro são das teorias do Schoenberg, estudadas pelo Adorno e passadas para o Mann. Para aumentar a "cara de pau", o Adorno reconheceu em determinado ponto que o Leverkuhn era baseado no Schoenberg, mas também no Stravinsky. Balela, pra mim ele só deu uma desculpa esfarrapada mesmo. Um detalhe até mórbido: quando fugiu da Guerra, Schoenberg foi para Los Angeles. E lá, quem se tornou praticamente vizinho dele? O Thomas Mann! Existe um outro livro, em inglês, que conta mais detalhadamente o imbróglio entre os três causado pelo Doutor Fausto: www.amazon.com/-/pt/dp/0520296834/ref=sr_1_1?keywords=thomas+mann+doctor+faustus+analysis&qid=1661785996&sprefix=doctor+faustus+thomas+mann%2Caps%2C186&sr=8-1 Recomendo.
Não consegui avançar por conta de toda teoria musical explorada além do limite razoável onde SOMENTE uma pessoa da área poderia absorver sem se entediar.
Até agora eu li até o final do capítulo XXV, o capítulo do pacto, mas não me parece que o pacto foi firmado antes, o diabo diz isso como recurso psicológico para convencer Adrian de que já havia sido feito e não teria como voltar atrás. O que ocorre é que a personalidade de Adrian, a forma desrespeitosa, indiferente e debochada de tratar pessoas, a tradição, os costumes, a simpatia pelas coisas das trevas chamou atenção diabo e aí passaram a ficar de olho nele e a interferir na vida do personagem. As atitudes e modo de ser dele deram essa permissão ao diabo, para que ele fosse manipulado e preparado pelos demônios para estar pronto, mais à frente, para firmar o pacto, de facto.
Tb é uma interpretação! Na verdade, não sabemos sequer se o diabo existe ou se tudo aquilo foi fruto dos delírios de febre de Adrian... 🤷🏻♀️ É um livro com muitas camadas e muitas interpretações!!
É difícil crer que o Thomas Mann quis simbolizar o pacto da Alemanha com o diabo sem que essa pacto tenha acontecido, de facto. Ou que todas as apreensões e medos do amigo de Adrian não tenham sido construções e premonições do que seria o futuro dele. Tornaria os eventos da obra sem significado. Não é como se cada interpretação tivesse o mesmo peso, tem que ter verossimilhança e maior probabilidade. Mas enfim, vou terminar de ler e depois comento.
As discussões sobre teoria musical são quase incompreensíveis para quem não tem noções a respeito (é o meu caso). Também acho o ritmo irregular, pelo detalhismo do autor, que descreve tudo e todos de modo por vezes enfadonho. Há muitos personagens secundários e subtramas que parecem só atrasar o desenvolvimento do enredo. Todos esperamos pelo encontro de Leverkühn com o diabo, e isso só acontece pela página 350. Mas, uma vez concluída a leitura, trechos que antes pareciam pura "gordura", desnecessários, podem ser encarados de outro modo. Personagens da æórbita" de Leverkühn e Serenus podem ser vistos de outro modo. E as partes impactantes são muitas. Todos lembram do diálogo faustiano como o grande momento do livro, mas para mim nada supera a confissão final de Leverkühn. A sensação que fica, realmente, é de que se leu uma obra poderosa.