00:12 - Cavaleiro Monge
Intérprete: Mariza e Sinfonietta de Lisboa, Lisboa - 2006
Poema: Fernando Pessoa, 9-11-1928 - Poesias Inéditas (1919-1930)
Música: Mário Pacheco
Arranjo e regência: Jaques Morelenbaum
03:37 - Vaga, no azul amplo solta
Intérprete: Ana Moura & Patxi Andión (Madrid, 6 de outubro de 1947 - Cubo de la Solana, 18 de dezembro de 2019)
Poema: Fernando Pessoa, 20-03-1931
Música: Patxi Andión
06:46 - Ó sino da minha aldeia
Intérprete: António Zambujo
Poema: Fernando Pessoa
Música: Fado das Horas
12:25 - A morte é a curva da estrada
Intérprete: Tiago Bettencourt, Camané e Pedro Castro
Poema: Fernando Pessoa, 23-5-1932
Música: Tiago Bettencourt
Excertos do filme "Não Sou Nada - The Nothingness Club", de Edgar Pêra, sobre Fernando Pessoa, 2023
16:32 - Mar Português
Intérprete: Carlos do Carmo
Poema: Fernando Pessoa, “Mensagem”
Música: André Luiz Oliveira
21:07 - Quadras
Intérprete: Camané, filme “Fados” de Carlos Saura
Poema: Fernando Pessoa, 1928 - Poesias Inéditas (1919-1930)
Música: Jaime Santos, Fado Alfacinha
Guitarra Portuguesa: José Manuel Neto
Viola: Carlos Manuel Proença
Contrabaixo: Paulo Paz
Fernando Pessoa (1888 - 1935)
Aos 7 anos partiu para a África do Sul com a sua mãe e o padrasto, em 1905 regressou definitivamente a Portugal. Criou os seus três conhecidos heterónimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro, em 1914. Em 1915 lançou, com Mário de Sá-Carneiro, José de Almada Negreiros e outros, a revista Orpheu, que marcou o movimento modernista português. Mundialmente conhecido, um marco na literatura portuguesa do século XX, a sua obra foi traduzida em dezenas de línguas.
Poemas originais de Fernando Pessoa:
__ Do vale à montanha __
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados,
Por quinta e por fonte,
Caminhais aliados.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por plainos desertos
Sem ter horizontes,
Caminhais libertos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por ínvios caminhos,
Por rios sem ponte,
Caminhais sozinhos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim.
24-10-1932, Poesias
__ Vaga no azul amplo solta __
Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.
O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma,
E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.
Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.
Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.
20-3-1931, Poesias
__ Ó sino da minha aldeia __
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
s. d., Poesias
__ A morte é a curva da estrada __
A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
23-5-1932, Poesias
__ Mar Português __
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
s.d., Mensagem
__ O amor, quando se revela __
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
1928, Poesias Inéditas (1919-1930)
“Música feita em Portugal”
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9 июл 2023