No tempo em que as estradas eram poucas no sertão, tangerinos e boiadas cruzavam a região entre volante e cangaço; quando a lei era no braço do jagunço pau mandado do coronel invasor, dava-se no interior esse caso inusitado. Quando Palmeira das Antas pertencia ao capitão Justino Bento da Cruz, nunca faltou diversão, vaquejada, cantoria, procissão e romaria sexta-feira da paixão. Na quinta-feira maior dona Maria das Dores no salão paroquial reunia os moradores; depois de uma preleção ao lado do capelão escalava a seleção de atrizes e atores. Todo ano era um Jesus, um Caifás e um Pilatos. Só não mudavam a cruz, o verdugo e os maus-tratos. O Cristo daquele ano foi o Quincas Beija-flor; Caifás foi Cipriano, Pilatos foi Nicanor. Duas cordas paralelas separavam a multidão pra que pudesse entre elas caminhar a procissão. Quincas carregando a cruz foi não foi advertia o centurião perverso que com força lhe batia: - “Era pra bater maneiro!” Bastião não entendia devido ao grande pifão que tomou naquele dia do vinho que o capelão guardava na sacristia. Cristo dizia: - “Ô rapaz, vê se bate devagar! Já tô todo incalombado, assim não vou agüentar. Ta c'a gota pra doer! Ou tu para de bater ou a gente vai brigar... Jogo já essa cruz fora, tô ficando aperreado; vou morrer antes da hora de ficar crucificado!” O pior é que o malvado fingia que não ouvia, e além de bater com força ainda se divertia, espiava pra Jesus, fazia pouco e dizia: - “Que Cristo frouxo é você que chora na procissão? Jesus pelo que se sabe não era mole assim não! Eu tô batendo com pena, tu vai ver o que é bom na subida da ladeira da venda de Fenelon o couro vai ser dobrado! Até chegar no mercado a cuíca muda o tom.” Naquele momento ouviu-se um grito na multidão. Era Quincas que com raiva sacudiu a cruz no chão e partiu feito um maluco pra cima de Bastião. Se travaram no tabefe, pontapé e cabeçada ; Madalena levou queda, Pilatos levou porrada, deram um cacete em Caifás que até hoje não faz nem sente gosto de nada. Desmancharam a procissão, o cacete foi pesado; São Tomé levou um tranco que ficou desacordado; acertaram um cocorote na cabeça de Timote que até hoje é aluado. Até mesmo São José, que não é de confusão, na ânsia de proteger seu filho de criação, aproveitou a garapa pra dar um monte de tapa na cara do bom ladrão. A briga só terminou quando o doutor delegado interviu e separou cada santo pro seu lado. Derna que o mundo se fez, foi essa a primeira vez que Jesus foi pro xadrez, mas não foi crucificado.
Faltou uma estrofe: "O papel de cada um o capitão escolhia A roupa é a maquiagem eram com dona Maria O restante, discutido, resolvido e aprovado Na sala da Sacristia." Você deve ter dado um copia e cola na letra do Cordel do Fogo Encantado, que não recita essa estrofe.
Maviael Melo é recitador nato. Narra poemas nordestinos como ninguém. Recebi no meu celular a história do Erro da Vendedora e gostei muito do seu estilo. Parabéns pelo trabalho!
lindo esse repente ou rima vem aqui na Bahia Maviel que eu vou te assistir tu é um artista de verdade, muito diferente dosque vemos nas tvs globo da vida.
Esse,realmente é um artista de verdade.O ministério da educação e cultura,deveria divulgar ,nas mídias e em escolas,os trabalhos desses verdadeiros artistas que fazém parte da cultura nordestina.