O professor Oliver Stuenkel é professor na FGV e pesquisador da Kennedy School na Universidade de Harvard. Ele conversou com Reinaldo Azevedo e Walfrido Warde no episódio 54 do Reconversa. Assista à íntegra aqui: / @reinaldoazevedo
Onde os EUA é um Democracia? Nunca foi. Seu presidente é eleito de forma indireta e só existem dois partidos. O Brasil é mais democrático que o Tio Sam.
A Política, como um fenômeno humano, há muito que deixou o terreno seguro da busca pelo Bem Comum - sua vocação natural - e hoje segue pelos domínios obscuros, concretos e tortuosos das Lutas pelo Poder. E uma vez lá, a Política tem corrompido desastrosamente a sua natureza. A considerar o avanço com que se dá a marcha das ideologias extremas, aqui e em todo o resto do mundo civilizado, a Política parece avançar sobre territórios de um caminho sem volta. Já não se trata mais de disputas partidárias, como outrora. Há uma guerra em curso. Uma guerra de impactos globais, de natureza intangível, que coloca em lados opostos a Democracia, tal como a concebemos, e uma estranha forma de governo, totalitária na ação e “democrática” na intenção. Essa estranha forma de governo utiliza fundamentos da própria Democracia apenas para subverte-los em conceitos que desafiam a própria razão. E assim avança, surfando num fundamento democrático notável: o voto popular. Ideologias extremas tem conquistado parcelas expressivas dos eleitores nos países democráticos em todo o globo. A Liberdade de Expressão, um fundamento caro à Democracia, está sendo sequestrado em favor das inverdades que saturam as redes sociais, sufocando verdades científicas, filosóficas, políticas e - principalmente - verdades jornalísticas, onde a confiabilidade de fontes está sendo relativizada em favor de mentiras com elevado potencial de destruição. Os efeitos já se fazem notar: doenças já sabidamente erradicada ressurgem com a força de seus patógenos, agora protegidos pela crescente descrença na eficácia e segurança dos imunizantes, trabalhadores sob a regência de aplicativos dão de ombros às defesas de seus próprios direitos; a Justiça já não alcança as mazelas da classe política na maior democracia do planeta; projetos de emendas constitucionais concorrem para levar o mundo de volta a idade das trevas. E o que é pior: a maior partes destes eventos prosperam, apoiados nas intenções do voto; do voto popular e essencialmente democrático. A Democracia já enfrentou guerras parecidas antes, mas nunca com esse potencial de destruição.
Interessante realmente, quem diria os Estados Unidos refém das suas leis dúbias, apesar de tudo felizmente temos leis e uma justiça eleitoral, pode e deve melhorar para evitar e punir eventuais golpistas.