Considerando a Paralisia Cerebral, as crianças com quadros clínicos de alta complexidade serão aquelas com comprometimentos mais amplos, como os casos de tetraparesia espástica ou com movimentações involuntárias, como a distonia e a coreotetose. Ao receber uma criança com diagnóstico de Paralisia Cerebral do Tipo Tetraparesia Espástica, a primeira coisa que eu penso neste caso é que a lesão encefálica foi mais ampla, comprometeu os dois lados do cérebro (hemisférios cerebrais) na área que gerencia o controle voluntário do movimento, envolvendo as regiões que controlam os braços, tronco e pernas.
Compreender o termo Tetraparesia Espástica pode não ser uma missão simples para uma família. Principalmente pelo número importante de comorbidades (alterações associadas) que podem ocorrer. Por exemplo, eu acredito que é importante para uma mãe compreender o que significa o termo Paresia, que é uma dificuldade da ativação dos músculos. Não quer dizer que o músculo não seja capaz de ser ativado (contrair), como num caso de Plegia, mas que existe uma dificuldade notória no controle e potência desta ativação em decorrência da lesão cerebral. O que significa Espasticidade? A própria paresia faz parte desta síndrome clínica que denominamos espasticidade. A Hipertonia (aumento do tônus muscular) é o sintoma mais importante da espasticidade e compromete o desempenho da criança. A Hipertonia Elástica é quando o tônus do músculo (estado de tensão muscular) é aumentado como uma consequência da lesão. No geral, todos nós apresentamos oscilações do tônus muscular durante nossas atividades diárias. Em atividades mais complexas, nosso tônus aumenta para deixar o músculo preparado para uma contração. Em contrapartida, quando estamos relaxados nosso tônus diminui. No caso das crianças com Paralisia Cerebral Espástica, o tônus muscular se mantém elevado quase que constantemente, e a principal causa da oscilação deste tônus (de alto para mais alto) é a velocidade do movimento. A Hipertonia Elástica é considerada velocidade dependente. Quando mais rápido for o movimento, maior será a tensão do músculo. Essa informação pode influenciar muito a dinâmica das atividades de uma criança, uma vez que é sabido que quanto mais rápido for o movimento maior será o aumento do tônus, é possível controlar a velocidade para facilitar as atividades. Este conhecimento pode mudar o dia-a-dia de toda uma família.
Se mostra muito importante que o terapeuta tenha um conhecimento profundo de todos os aspectos de base do diagnóstico do seu paciente. Isso não quer dizer que as informações vão ser encontradas em pesquisas feitas por fisioterapeutas, mas a neurologia e a neurociência apresentam estudos incríveis que fornecem essas informações. Como falamos anteriormente, os problemas são facilmente percebidos, mas o conhecimento proporciona o melhor direcionado para encontrar as soluções, minimizar os problemas e se antecipar. Uma criança com comprometimento motor mais severo provavelmente apresentará diversas comorbidades, ou seja, outras alterações que poderão fazer parte da sua vida, como dificuldades para se alimentar, encurtamentos muscular e deformidades ortopédicas. Quando compreendemos essas probabilidades e entendemos o que leva a cada uma delas, somos capazes de criar estratégias antecipatórias, com o principal objetivo de prevenir ou minimizar esses “danos colaterais”.
Um dos maiores problemas na reabilitação infantil de uma criança com comprometimento motor mais severo é que no geral ela vai passar a maior parte dos seus dias parada, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de diversas outras complicações clínicas. Permanecer mais imóvel, não ficar em pé e se mover diariamente pode e vai repercutir em problemas respiratórios, cardiovasculares, digestivos, etc. Uma das formas de auxiliar é pensar em aumentar a funcionalidade, criando estratégias para criança e sua família. Explicar corretamente como evitar a instalação destes problemas, planejar como promover movimentos, minimizar desgastes físicos desnecessários ou não fundamentados. O terapeuta precisa criar estratégias para dar uma chance ao cérebro de formar conexão que resultem em melhoras para o paciente, não se prendendo apenas ao diagnóstico, mas sim as possibilidades de aprendizado motor.
Assim, não podemos nos prender apenas as evidências científicas com a terminologia tetraparesia espástica, e sim analisar o quadro global entendendo e pesquisando cada um dos componentes que compõem o quadro clínico da criança, proporcionando assim um tratamento especializado e específico.
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24 сен 2024
