Com toda sinceridade, esta foi, para mim, uma das leituras mais difíceis do ano.
Como não sofrer ao passear pelo cenário que nos é apresentado pela autora?
Talvez esta seja a questão que mais nos salte aos olhos porque apesar do livro ter sido publicado em 1960, o contexto ali representado parece-nos cada dia mais atual.
Quem pode ser indiferente ao sofrimento de crianças descalças, famintas e doentes?
Configurada na forma de um diário, a obra nos apresenta uma mulher que se desdobra em duas personagens:
A Carolina narradora e a Carolina catadora de lixo, mãe de três filhos.
Nenhuma delas romantiza as dores vivenciadas pelos pobres na favela:
Carolina é categórica ao afirmar que trabalha catando papéis porque é a forma pela qual consegue adquirir algum dinheiro para alimentar seus filhos, não porque gosta do ofício.
O que há de belo em empenhar todas as suas forças para adquirir menos do que o necessário para viver? O que há de belo numa casa em que não há sequer água encanada? O que há de belo em ver o filho chorando, mal nutrido, pedindo por comida?
É evidente que há uma denúncia social muito grave nesta obra.
No entanto, é importante notarmos que a narrativa não se resume a isso.
Há aspectos literários que devem ser levados em conta para que façamos jus ao livro.
Tão importante quanto a história desta mulher que luta diariamente para oferecer uma refeição às suas crianças é a história da configuração desta obra.
Quarto de Despejo é uma metanarrativa, uma obra que se volta para si mesma, para a construção da figura de uma escritora.
Esta é, na verdade, a grande história de Carolina:
O nascimento de uma estrela!
Seu livro narra o caminho percorrido por aquela mulher que, apesar de todas as mazelas que a rodeavam, orgulhava-se de seu espírito erudito, de seu amor pela leitura e de seu sonho em escrever um livro.
Sem sombra de dúvidas, esta é uma leitura cada dia mais importante para a formação dos brasileiros.
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24 сен 2024
