Mario Quintana 1906-1994 foi um dos maiores poetas da literatura brasileira e seus versos reverberam ao longo de gerações.
A Rua dos Cataventos é um soneto, construído a partir de uma linguagem simples e informal.
O poema é também uma celebração da vida, daquilo em que o sujeito se transformou depois de ter sofrido tudo o que sofreu.
Poema: A Rua dos Cataventos
Narração: Corvo Lírico
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
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24 фев 2024