Epa... Desculpem lá mas, tal com já tenho feito em outros vídeos acerca deste “bicho”, tenho que defender o "mítico e assustador" (como alguns o rotulam) Uno Turbo i.e.!!! Ainda hoje não é p'ra qualquer um guiar, embora respeite o comentário de toda a gente, obviamente. O meu exemplar foi dos últimos a sair da actual Motor Village de Alfragide (versão Racing) em Abril de 94, a um mês do aniversário dos meus “inocentes” 23 anos… longe de imaginar que o mesmo viria a se tornar no melhor presente que alguma vez dei a mim próprio!!! Depois do "normal" susto inicial, que começou logo na brutal subida (hiper-rápida) de Monsanto/A5, percebi que o carrito, apesar de ter saído do stand pelos seus próprios meios, "ainda não estava totalmente acabado"… e foi assim que levou um sistema completo de travagem com 4 discos de competição perfurados da Brembo (com tubos em malha de aço da Sparco), "sapatos" Dunlop SP Sport ZR e jantes OZ Racing Antracite 195x55x15, barra de competição da Sparco, filtro cónico/directo da K&N, sistema de escape da Supersprint, molas Apex, amortecedores Koni Sport Improved, placa de aço por baixo do motor com espessura de 3mm para proteger o mesmo e conter o tradicional "levantar da frente" de que padecia... além de outras pequenas coisitas mais, como os pedais de competição da Sparco, etc… etc… Para completar o "ramalhete", dos 130cv que estranhamente trazia de origem (medições feitas na época na Bosch do Areeiro), através da intervenção da saudosa Garagem 19 em Palmela, passou-se para uns "animalescos" 153cv, porém, abrindo a "torneirinha" instalada no motor para esse efeito, a potência sobe pra lá do Deus me livre... acompanhada dos consumos altos (para não dizer, estratosféricos...) e de umas chamas a saírem pelo tubo de escape nas reduções de caixa (ao melhor estilo dos carros de rallye daquela época!)... Bem, por esta altura acredito que os coleccionadores puristas tiveram uma espécie de “ataque de pânico”, mas aquilo que mais me importa (até porque jamais irei me desfazer deste bólide, que foi o primeiro carro que comprei) é que sustos nunca mais... Posso até continuar a trocar de mulher (a classe feminina que me perdoe esta “sentimental comparação”), até de clube (os facciosos/fanáticos clubistas que relevem se quiserem…), religião e partido não tenho, mas trocar este pocket-rocket… “never… forever… and ever…”, está completamente fora de hipótese até porque ao longo destes anos fui tendo vários carros, mas este tem um lugar cativo lá na garagem e, porque não dizê-lo: “in my heart”!… Actualmente quando pisa o asfalto, orgulhosamente, continuo, ao fim de 25 anos, a ver muita gente a "acompanhá-lo com a vista" e algumas pessoas acabam mesmo por me abordar dando lugar a uma inevitável viagem nostálgica! É claro que nos dias de hoje, e do alto dos meus 48 anos, tenho muito respeito quando pego no menino, pois já não estou tão habituado como antigamente e quem conhece esta bela máquina sabe que, obrigatoriamente, convém ganharmos primeiro confiança com o "touro" para poder usufruir de momentos de condução únicos... Enfim, apesar de até a data só ter rodado cerca de 65.000kms (não, não me enganei!), ambos adoramos mais Serras e Estradas Nacionais do que Cidades e sonolentas Auto-Estradas, daí concordar plenamente com quem defende que o que importa não é a velocidade pura (até porque muitos exemplares ainda vivos, desde que estimados e com alguma "pimenta na veia", chegam p'ra lá dos 220kms/h na boa...), mas sim um tremendo gozo que dá conduzir em sítios como as míticas Serras de Sintra, Lousã, Arrábida, Falperra, Luso/Buçaco, etc… etc… Portanto, e perante toda a "má imagem e reputação" que a condução irresponsável de muita malta fez surgir (sendo que, a mais emblemática publicidade gratuita, se não estou em erro, foi o "caixão com rodas"), acho que podemos nos considerar uns autênticos sobreviventes, feitas que estão as nossas "Bodas de Prata"!!! Convém também referir que o triste "lado negro" que esta viatura sofreu deveu-se sobretudo à malta inconsciente que estava por detrás do volante e que geralmente, talvez entusiasmados/siderados com a melodia da “turbina”, saíam de frente nas curvas (ou perdiam totalmente a traseira) por não saberem dosear o acelerador... desconfio que se calhar por momentos pensavam que estariam num 45s…não sei! Muitos destes exemplares chegaram aos sucateiros após “picanços” mal sucedidos (coisa que no passado e muito menos no presente, por mais que às vezes ainda me desafiem, alinhei ou alinho porque racionalmente não faz qualquer sentido as chamadas “Street-Racers”), pois isso é tudo muito lindo é em Hollywood ou, na melhor das hipóteses, em circuitos fechados em que não se coloque outras vidas em jogo, contudo, o que é que eu iria ganhar com uma suposta vitória, colocando-nos em risco, se nunca participei em nenhum campeonato oficial?! Tou fora, obrigado! Resumindo, se analisarmos friamente qualquer situação, não existem carros perigosos e sim condutores perigosos porque cabe ao condutor perceber os limites da máquina que tem nas mãos e explorá-la conscientemente sem se deixar "embebedar" pelo excesso de adrenalina ao ponto de colocar a sua vida (e a de terceiros) em jogo! Agindo em sã consciência, não há espaço para tragédias até porque "carros de estrada" é uma coisa, e "carros de corrida" é outra completamente diferente, cujo seus "habitats naturais" são, também, completamente diferentes! Abraço a todos que assistem à lembrança destas verdadeiras "obras-primas" do passado!!!
