Aquele lugar, o ar. Primeiro, fiquei sabendo que gostava de Diadorim - de amor mesmo amor, mal encoberto em amizade. Me a mim, foi de repente, que aquilo se esclareceu: falei comigo. Não tive assombro, não achei ruim, não me reprovei - na hora. Melhor alembro. ………… O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente - “Diadorim, meu amor...” Como era que eu podia dizer aquilo? ……… E como é que o amor desponta. ….. Coração cresce de todo lado. Coração vige feito riacho colominhando por entre serras e varjas, matas e campinas. Coração mistura amores. Tudo cabe. ……… E eu - como é que posso explicar ao senhor o poder de amor que eu criei? Minha vida o diga. Se amor ? ... Diadorim tomou conta de mim. …………. E de repente eu estava gostando dele, num descomum, gostando ainda mais do que antes, com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu tinha gostado. Amor que amei - daí então acreditei. …… Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava com meu corpo aquele Diadorim-que não era de verdade. Não era? ……………… Diadorim deixou de ser nome, virou sentimento meu …….. Aquilo me transformava, me fazia crescer dum modo, que doía e prazia. Aquela hora, eu pudesse morrer, não me importava. ………. Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois. …….. Tudo turbulindo. Esperei o que vinha dele. De um aceso, de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às loucas, gostasse de Diadorim, …… no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as muitas demais vezes, sempre. …… Abracei Diadorim, como as asas de todos os pássaros ……. Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. ……. amor é a gente querendo achar o que é da gente
Somente aos quase 60 anos, estou lendo Grandes Sertões Veredas. Aos vinte e pouco, fiz a segunda tentativa e apesar de ter sempre embarcado , nos descaminhos de linguagem da literatura, não pude. E agora, é só magia !
Existe o momento certo pra tudo na vida. Eu mesma, se tivesse tentado ler em outro momento, acho que teria desistido, talvez até pegasse "trauma" de nunca mais querer tentar de novo. E não é só pela linguagem, acho que essa barreira poderia ser superada com algum esforço. Mas a complexidade dos sentimentos e muitas das reflexões existentes na obra, creio que só podem ser plenamente compreendidas com certa maturidade e vivências, coisa que não pode resolver com um dicionário em mãos.
Que lindo! Fui pela metade do caminho muitas vezes, só me achei preparado pras veredas da viagem nas minhas férias. Eu só tinha os dias pra isso, e foi a viagem mais incrível que eu fiz em toda a minha vida...
Quando leio Guimarães Rosa , parece que o sertão do Brasil e o lugar mais lindo e poético do mundo . Esse trecho é tão espetacular que até preconceituoso se rende.
É lindo sim e quando cheguei na ponta de um dos pedaços do planalto da Borborema, aonde ele faz encontro com o sertão, o pôr do sol estava lá me esperando e levando o calor e trazendo o frio da noite em tudo eu vi beleza. O sertão é lindo, tem seus problemas sociais que podem ser resolvidos, basta além de querer também fazer. Mas em tudo ele é lindo sim.
Ahh, como pode alguém conseguir carimbar, em um texto, todos os sentimentos indizíveis e inexprimíveis pela nossa limitada condição humana, muda, carente de vocabulário, carente de acesso à linguagem certeira que permite circular por todos ambientes. Guimarães Rosa... O gênio, dono do jardim secreto do vernáculo, dono da chave que nos permite que o nosso interior veja e beije o Sol. Quanta generosidade há em quem nos liberta de nós mesmos por meio da palavra. 😍😍😍😍
"Diadorim deixou de ser nome e virou sentimento meu." Ai! 😍 "Diadorim é minha neblina". Eu já não tenho condição com o romance mais maravilhoso da literatura!
Tem como curtir mil vezes? Só entende e gosta quem conhece a obra, Grande Sertão: Veredas, uma narrativa carregada de filosofia narrada em um linguajar simples e emocionalmente. Guimarães Rosa o mestre da nossa literatura.
Que espetáculo essa mulher lendo essa maravilha de texto!!! Estou terminando minha leitura do grande sertão... vou guardar esse texto pra sempre!!!! Presente divino de Guimarães e Bethânia...
"... Amizade que eu tinha com Diadorim. Não é amizade de interesse ou amizade que surge do prazer de uma conversa. Amizade que eu tinha era amizade dada. Amizade dada se chama amor".
Estou lendo pela primeira vez agora. Estou completamente apaixonada pelo mundo que Guimarães Rosa criou. É um livro para ser lido várias vezes ao longo da vida. É uma poesia que aquece o coração ❤️
Quem deu deslike nessa interpretação,só pode ser por inveja...do talento dessa mulher,ou por inveja desse canal. Porque não existe outra desculpa mais aceitável pra isso.
Cê não tá mais comigo bolinho, mas ainda há amor aqui. Hoje faríamos 2 anos. Pena que a vida é tão inconstante. Lhe desejo as mais sinceras felicidades.
Finalmente resolvi me dar de presente a preciosidade dessa leitura. Essas linhas falam direto ao coração. E que privilégio é falar essa língua e ser fruto dessa cultura para poder entendê-las, do jeitinho como foram escritas. Cada vez que termino um trecho, sou pura gratidão.
Eu acho um privilégio saber português para poder ler este livro no original! Mesmo não atingindo o entendimento total de quem sabe e sente a cultura sertaneja.
Depois do vídeo, façam o favor de ler o livro e de ler literatura brasileira. Esse país precisa criar hábito de leitura. A maioria só veio por causa da Bethânia, que fez um lindo trabalho. Mas não fiquem na superfície.
Eu estou lendo Grande Sertão: Veredas. Já passei da metade. Não acho que quem chegou aqui foi necessariamente por causa da Bethânia. Tem muito mais coisa dela por aí.
Fascinante!!! Li Grande Sertão Veredas na adolescência, mas sempre leio fragmentos dessa obra! Penso que está na hora de ler novamente, tá até alí na minha frente!
Ah, meu senhor! - como se o obedecer do amor não fosse sempre ao contrário... O senhor vê, nos Gerais longe: nuns lugares, encostando o ouvido no chão, se escuta barulho de fortes águas, que vão rolando debaixo da terra. O senhor dorme em sobre um rio?
Passando para compartilhar o link dessa composição inspirada no livro "Grande Sertão: veredas" de Guimarães Rosa. "Grande Sertão: veredas" é bibliografia de uma disciplina do meu doutorado. Nessa disciplina tinhamos que fazer uma atividade chamada "ATOS DE FALA E PERFORMATIVIDADE". Então, resolvi fazer a canção. No refrão faço uma "brincadeira" com o nome Diadorim, o dividindo. Dedico esta música a todos os amantes desse belo livro! Espero que gostem! ru-vid.com/video/%D0%B2%D0%B8%D0%B4%D0%B5%D0%BE-QU4XlDyVOxk.html
Essa citação transcende. E essa parte em especial, nos da um insight perfeito sobre o amor e sobre a paixão: "Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém e o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando"