No vídeo de hoje, vou fazer um breve comentário sobre o terceiro ponto, do primeiro capítulo, do livro "A vida intelectual", de Sertillanges. O ponto se chama "O intelectual pertence a seu tempo". O título é bem intuitivo. Para você que não me conhece, eu me chamo Cid Rodrigo Lourenço e sou professor de Filosofia. Vamos ao comentário.
"É inegável que o século passado, com suas duas Grandes Guerras, com suas volatilidades políticas e socias, foi um momento de desestabilidade, perigo e desesperança para a humanidade, de tal modo que Sertillages propôs aos intelectuais a considerarem a seguinte questão: “Que devo fazer por esse século arfante?”. É certo também que na mesma proporção que cresceu a obscuridade daquela época, também surgiram pensadores de relevância, a fim de retomar o sentido quase perdido da vida humana. Mas, hoje, será que nos encontramos instalados tranquilamente em nosso tempo, podendo nos furtar à essa mesma questão? Talvez ainda nos sirva a citação: “Mais do que nunca o pensamento espera os homens e os homens esperam o pensamento”.
No século XXI, o nosso tempo, como todos os outros, a humanidade e o pensamento aguardam-se mutuamente. E para que possa ocorrer o encontro entre o pensar e o homem, dois aspectos importantes são apresentados nesse subcapítulo do livro: o primeiro se refere à exclusão do pensamento diletante e o segundo, ao cuidado com o amor excessivo pelo passado.
Começando pelo primeiro aspecto, Sertillanges nos exorta a um pensamento que exclua o diletantismo, isto quer dizer, à uma prática intelectual que não esteja simplesmente em busca da novidade efêmera de um modismo, ou do etretenimento meramente lucrativo, ou de um impulso que apenas quer chamar a atenção, mas nos incita para o encontro com um pensamento honesto, reconhecendo seus limites e seus propósitos, sem jamais perder de vista o tempo que é o nosso.
E isso nos leva ao segundo aspecto, que é a exclusão do que ele chama “de tendência arqueológica”. Isso significa que ao estudar os pensadores do passado, podemos empacar, atolar numa época e em um problema que não são os nossos, e por isso passarmos a não considerar mais “as dores presentes”, a não nos relacionarmos mais com a própria época em que vivemos, com seus problemas, suas desvantagens e seus benefícios. Contudo, devemos salientar, que é importante recorrermos, sim, aos antigos pensadores da humanidade, mas para buscar o aprendizado constante, o folêgo que muitas vezes nos falta, o impulso para alcançar uma distância maior do que poderíamos, se estivéssemos desacompanhados.
Sendo assim, ele nos faz lembrar de que “A verdade é sempre nova” à medida que o pensamento do passado se renova no diálogo com o presente. Por fim, podemos agora entender quando ele diz: “Aproveitemos, vivos, o valor dos mortos”.
19 июн 2024