Vacuidade e pensamento mágico 

Oi Zelda, a maioria dos eventos é aberta ao público geral, quando não é, isso é especificado na inscrição. Você olha os eventos pelos sites do Odsal Ling ou do Khadro Ling, do Yeshe Ling ou do Dorje Ling, etc. tzal.org/centros-de-darma-que-recomendo/ Quanto a ir assistir uma prática diária, isso varia do centro. Alguns tem práticas abertas alguns dias da semana, outros você precisa conversar com alguém (manda email pra eles). Todos os centros tem horários de visitação, e geralmente tem alguém com quem você pode conversar sobre como começar. Não tem problema você ir acompanhando pela internet o que for, desde que você não se sinta confortável de apenas fazer isso. Minha maior aspiração é transformar os budistas de internet em praticantes com refúgio no buda, no darma e na SANGA. Com relação a professores, bom, esse termo é o termo genérico que eu uso. Uma coisa é alguém que pode explicar para você algumas coisas iniciais e práticas, outra coisa é um lama ou guru, alguém que vai conceder iniciação. No primeiro caso, todos nós temos na sanga muitos professores o tempo todo. Geralmente as pessoas vão se perguntando, e se encontram um instrutor autorizado, bem melhor. Daí no Chagdud Gonpa, todo mundo é aluno de todos os lamas do Chagdud Gonpa. O meu critério quanto a outros professores e grandes professores de impacto mundial é que se o Chagdud Gonpa convida, ou se recomenda, eu sinto a aspiração de me tornar aluno. Mas eu também tenho a minha professora que é quem me conhece melhor e com quem eu converso mais, e quem na dúvida entre a opinião de dois professores, eu sempre sigo ela em primeiro lugar. Daí para encontrar um professor assim, você precisa conviver em sanga, e aos poucos as pessoas se conhecem, e então vc naturalmente se sente mais atraída por esse ou aquele, e se aproxima mais. Agora, se é para ouvir ensinamentos em público, qualquer professor autêntico vale. A exceção é para tomar iniciação. Para tomar iniciação você precisa conhecer o professor, e idealmente, ele precisa conhecer você. E você precisa ver ele ou ela como um buda vivo, e estar disposta a manter o compromisso de nunca perder essa visão. Isso pode ser rápido, mas tradicionalmente é recomendado 12 anos de exame do professor. Nesses tempos atuais, não dá para esperar 12 anos, mas pelo menos uns meses ou anos de convívio é mais adequado do que simplesmente se atirar numa iniciação. A palavra "iniciação" é ruim, é uma coisa que só tem no vajrayana, e é tradicionalmente, relativamente avançado -- não é para iniciantes. A coisa que faz você ser budista é a tomada de refúgio, não a iniciação (embora na iniciação tenha uma tomada de refúgio embutida, bem curtinha). Aí quando você for na sanga, você pode pedir para tomar refúgio, se você quer se comprometer com praticar os ensinamentos do Buda. A tomada de refúgio não implica nenhum compromisso com o centro que você toma o refúgio, nem com o professor que dá o refúgio (ao contrário da iniciação, que implica esses compromissos de certa fidelidade com o centro e absoluta fidelidade com o professor).

@@Tendrel entendi, gratidão pelo esclarecimento 🙏, eu tinha mesmo essa dúvida sobre quando é válido se considerar budista, se já posso me chamar assim em algum nível. Como a sanga é uma das três jóias, desde que li a respeito do refúgio pela primeira vez, imaginei que deveria ser fundamental pra todo budista pra se oficializar participar da comunidade presencialmente, daí fiquei com essa sensação de urgência pra visitar um templo, ao mesmo tempo que a timidez ataca.

Se você aceita os quatro selos: 1) todas as coisas compostas são insatisfatórias; 2) todas as emoções levam ao sofrimento; 3) todos os fenômenos são desprovidos de existência intrínseca ou própria (existem na dependência de outras coisas, e não existem por si só); e 4) o nirvana é além dos extremos; e você aceita o Buda como fonte desses ensinamentos, aí você é budista, independentemente de ter tomado refúgio formalmente. Antes de tomar refúgio numa cerimônia, você pode tomar refúgio fazendo prostrações para uma representação do Buda ou mesmo para uma visualização mental do Buda, e recitando uma oração de refúgio. Aí a gente toma refúgio formalmente, numa cerimônia com outros budistas, e depois segue fazendo refúgio diariamente, as vezes mais de uma vez por dia. Sim, o aspecto vivencial do darma é algo pouco enfatizado quando se lê coisas ou se assiste pela internet, mas qualquer pessoa que passou pelo convívio no darma em termos de prática em conjunto ou um retiro de alguns dias, sabe que é bem diferente ler ou ouvir sobre o darma em contextos variados, em casa por exemplo, ou caminhando, do que ouvir e praticar o darma em meio a outros praticantes e com um professor qualificado. É uma diferença como a diferença entre ver um filme romântico e sonhar com romance ou viver mesmo um relacionamento com uma pessoa real.

@@Tendrel aceito totalmente os selos, entendi, gratidão de novo pelo esclarecimento. Vou seguir acompanhando os vídeos e quando eu conseguir vou visitar um templo o quanto antes.

No longo prazo, a geração de méritos, isto é, fazer ações positivas. No médio prazo, a bodicita, isto é, entregar sua vida e todas as ações ao darma para que todos os seres se iluminem. No curto prazo, os meios hábeis do vajrayana, que são uma forma de combinar geração de mérito com bodicita de forma extraordinária. No entanto, é bom lembrar que o budismo é bem franco quanto ao samsara não ter solução. Se você tem um corpo, você vai ver a degradação desse corpo, pelo nascimento, doença, velhice e morte. Se a prática budista de alguém é fazer as coisas ficarem bem, daí na verdade, não tem uma prática budista. Nossa prática tem outra motivação, que é ir além de samsara ou, mais do que isso, quando há a bodicita, ir além de samsara e nirvana. Isso quer dizer que mesmo você gerando todos os méritos do mundo, gerando a bodicita mais impecável, e sendo proeficiente nos mais avançados meios hábeis do vajrayana, você ainda assim vai vivenciar doença. Pode ser que você consiga evitar uma doença que outra, mas se você tem um corpo, e se você tem carma residual de suas muitas vidas passadas (todos têm), você vai vivenciar doenças independente do que você faça. O mesmo vale para as pessoas que você vai ajudar. Você pode rezar por elas, e fazer cerimônias elaboradas, e isso com certeza vai ajudar de algum jeito -- mas se você ou a pessoa que está sendo ajudada acha que "tudo tem solução", aí isso é um elemento de pensamento mágico, que para o darma, é em si uma doença. É bom adicionar que através de meios hábeis tais como tonglen, chod e outros, a sua experiência de doença pode servir para beneficiar os outros, e a melhor forma de encarar revezes como doenças e outros sofrimentos temporários ou fatais, é como purificação para o seu carma, e como uma forma de ajudar na purificação dos carmas coletivos do mundo.