Segue o poema traduzido: (I) Lá, quando nós éramos crianças E nosso tempo era de tenra idade, Estávamos sobre os prados Indo de lá pr'a cá, Onde muitas vezes Violetas encontrávamos: Onde hoje se vê o gado correndo. (II) Eu lembro-me bem que nós Nas flores analisávamos Qual era a mais bela. Foi lá que nosso auge infantil brilhou Sob a fresca coroa No baile: Assim passa-se o tempo! (III) Veja, nós fomos procurar morangos Do abeto à faia, Sobre colinas e vales, Enquanto brilhava o sol. Quando grita um lenhador Pelos arbustos: "Vão embora, crianças, vão para casa!" (IV) Todos nós tivemos manchas De ontem, quando colhíamos morangos. Era uma brincadeira infantil para nós. Então ouvimos várias vezes O grito de nosso pastor Nos avisando: "Crianças, há muitas cobras aqui!" (V) Andava uma donzela pela grama, Ela se assustou e chorou alto: "Crianças, tem uma cobra por aqui, E ela mordeu nosso pai; Ele nunca mais será saudável, Ele será para sempre Doente e infeliz." (VI) Vamos, saiam da floresta! E se vocês não se apressarem, O que prevejo acontecerá com vocês: Se não conseguirem sair da floresta de dia Será tarde demais, E suas alegrias se tornarão lamentações. (VII) Vocês se lembram das cinco donzelas Que estavam atrasadas no caminho Que o rei trancou o saguão? Suas lamentações e feridas foram grandes; Porque os guardas Rasgaram as roupas delas Que ficaram nuas.
Fico feliz que o Alexander está sendo mais conhecido no Brasil. Ele não é muito popular até entre os trovadores, mas tem obras interessantes. Trabalho fenomenal como sempre!
É a primeira vez que tenho contato com as obras desse trovador. É realmente um esplendor os seus versos! O ritmo é a musicalidade são tocantes, e os versos mais ainda!
Maravilhoso vídeo, amigo. Belíssima tradução e texto da descrição. Acho um poema enigmático, surpreendente e sua interpretação não é fácil. O Alexandre usou muitas analogias. Fala-se de brincadeiras despreocupadas e inocentes das crianças no prado, a colheita de morangos, a alegria das crianças, pois a infância também é a época desprovidas das preocupações ruins. Mas desde o início há um leve toque de melancolia do eu-lírico no poema. O Alexandre surpreende na medida que as estrofes continuam e o poema ganha um tom mais ameaçador que se infiltra na alegria da cena inicial de um dia ensolarado no prado. E repetidas vezes as crianças são avisadas do perigo que se aproxima, pois há cobras no prado. Elas são avisadas para que a escuridão não se aproximem sobre elas e se percam do caminho, para que não sejam como o indivíduo que foi mordido pela cobra e agora não consegue mais se curar. Incrível como o Alexandre foi tão longe e o seu poema tem uma lição de moral. Um poema cheio de referências nas Sagradas Escrituras e no Ecloga de Virgílio. Muito complexo. Gostei muito do seu texto, do vídeo e da interpretação musical. Trabalho incrível!
E eu que pensava que Marcabru e Ulrich eram radicais... Essa me surpreendeu... Acho até que foi mais além do que isso, pois o poema torna-se tão real nos ultimos tempos . Otimo vídeo!
Aqui vai uma observação minha: quando o poeta se refere a picada que a cobra infligiu sobre seu pai, acredito que o trovador fez referência à Adão, pois o personagem do pastor já recebe a analogia de Deus como conselheiro. Já o pai, que provavelmente sabia que os campos de morango (as tentações) eram infestados por cobras (o pecado) mas mesmo assim ele decide se aventurar em suas tentações, com isso, uma imensa tristeza e amargor tomam conta do pai, oque pode nos mostrar que em um certo período da vida do pai do poeta, ele se torna um homem abusivo e triste pelo resto da vida. Acredito que ele tenha feito essa alegoria para manter mais ainda a referência ao antigo testamento.
Excelentes comentários, meu caro. Boa interpretação. É possível que a mordida da cobra, possa ser, com alguma justificativa, uma referência ao Adão. O perigo que ameaça a cena, pois o pastor diz para as crianças que "há cobras." e um alerto do tipo: -"Vão para casa e se apressem, para que a escuridão não os surpreenda na floresta. Para que elas não sejam como o homem que uma vez foi mordido por uma cobra e agora não consegue mais se curar, para que não aconteça com elas o que aconteceu com as cinco virgens quando foram expulsas dos salões do rei." A ameaça de perigo da cobra e a advertência do pastor provavelmente é para não ignorar a aproximação da noite, da escuridão sombria que ronda no mundo.
