MEU PAR DE ESPORAS
(Rogério Villagran/André Teixeira)
Violões base e aço: André Teixeira
Violões solo e contrabaixo: Pedro Terra
Cordeona de botão: Ricardo Comassetto
Percussão: Rogério Melo
Arranjo: André Teixeira
Meu singelo par de esporas,
Já desgastado e sem brilho,
Mas que quando apresilho,
Se alarma e se revigora;
Na mangueira ou campo a fora,
Onde trabalho de peão,
Contigo junto a função,
Até me sinto um monarca,
Roseteando boi na marca,
Nas manhãs de apartação.
Retorno ao galpão da estância,
Encilhando cavalete,
Por domador ou ginete,
Nas brincadeiras da infância,
Onde já tinha importância,
Na ilusão da campereada,
A cincha bem apertada,
Firmando um resto de garra,
Num faz de conta e por farra,
Pés no chão e espora atada.
Me lembra um maula, sotreta,
Que corvcoveava berrando,
E eu te largava floreando,
Ali no “mol” da paleta,
Beliscando com as rosetas,
Mordiscando pelo e couro,
Por graça, por desaforo,
Arranhando de mansinho,
Feito quem faz um carinho,
Numa tarde de namoro.
Sempre foste companheira,
Barulhenta, “buzinuda”,
Das que de longe, saluda,
Alardeando por faceira,
E além da lida campeira,
Nas horas de diversão,
Dancei muito vanerão,
Nos bailongos de ramada,
Contigo dependurada,
No cabo do meu facão.
Muito embora, enfraquecida,
Com o talareio opaco,
Atada com um tento fraco,
E pouco exigida na lida,
Nunca te deixo perdida,
Pelos ganchos do galpão,
Pois é triste a solidão,
E eu gosto do teu rezingo,
Marcando o trote do pingo,
“Colgada”, nos meus “garrão”.
Sei que vai chegar a hora
De apartarmos um do outro
E aquelas pegas de potros
Serem recuerdos de outrora.
Por isso, meu par de esporas,
Enquanto der, vamos indo.
Tempo a dentro, resistindo,
Sem nunca perder o tino.
E tu com o teu destino,
Vida a fora, retinindo.
15 сен 2024